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41. Gênero, Diásporas e Diversidades na Antiguidade e no Medievo |
Coordenador@s: Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ), Valéria Fernandes da Silva (FTBB) |
Dando prosseguimento ao trabalho iniciado no Fazendo Gênero 7 e continuado no Fazendo Gênero 8, nosso propósito é, partindo do debate sobre as práticas sociais e discursos sobre a diversidade e as diásporas impostas a pessoas e grupos nas sociedades antigas e medievais, aprofundar a reflexão teórico-metodológica e epistemológica sobre os Estudos de Gênero e a História das Mulheres, estimulando a comunicação entre os que se dedicam ao tema, sejam pesquisadoras e pesquisadores em formação ou já experientes. Tomando como referência o caráter plural das sociedades antigas e do medievo, o ST buscará adensar a discussão sobre as construções de gênero na Antigüidade e no Medievo, relacionada à diversidade do social e às diásporas, tanto em nível micro quanto macro-histórico. Neste sentido, propomos não só um debate interdisciplinar, que permita a troca de experiências entre as pesquisadoras e os pesquisadores provenientes de diversas áreas do conhecimento, mas também com estudiosas e estudiosos de outros períodos históricos. Acreditamos que o ST Gênero, Diásporas e Diversidades na Antiguidade e no Medievo é estratégico para estimular o desenvolvimento dos estudos sobre a Antigüidade e o Medievo que empregam a categoria/conceito gênero em nosso país, já que se propõe a suscitar temas de pesquisa ainda pouco explorados pelas e pelos especialistas brasileiros e proporcionar o enriquecimento das discussões teóricas, com o estabelecimento do diálogo entre pesquisadoras e pesquisadores de várias regiões, de diferentes campos do saber e em diversos níveis de formação. O ST também dará maior visibilidade aos trabalhos realizados nos campos dos Estudos de Gênero e da História das Mulheres que investigam aspectos das sociedades antigas e medievais já produzidos ou em desenvolvimento em nosso país. A metodologia adotada será a apresentação de comunicações, agrupadas pela proximidade temática, e a promoção de debates.
Local: Sala 333 do CFH
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Resumos
24/08 - Terça-feira - Tarde (14h às 18h)
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Maria Angélica Rodrigues de Souza (UFRJ)
As indumentárias das atenienses constituindo discursos e ultrapassando fronteiras
Almejamos, nesta comunicação, compreender os signos contidos nas roupas como uma das formas de comunicação das esposas bem-nascidas atenienses no Período Clássico, pois nos permitirão vislumbrar a constituição de identidade e a expansão da linguagem para esfera extra-doméstica por intermédio da circularidade da mensagem.
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Edson Moreira Guimarães Neto (UFRJ)
Erotismo e nudez feminina nas "Hydríai" do "Washing Painter" (450-400 a.C.)
O estudo da iconografia ática se tornou um campo consolidado da historiografia ao longo dos últimos trinta anos, tendo adquirido grande destaque os trabalhos que analisam as imagens representando os cotidianos femininos na Atenas Clássica (séculos V e IV a.C.).
A historiografia que trabalha com as imagens do feminino tem tradicionalmente destacado determinados signos que se repetem (como a nudez feminina) para legar determinadas cenas ao âmbito da prostituição. Dentro desse contexto, algumas das "hydríai" atribuídas ao "Washing Painter" tornaram-se imagens canônicas dessa corrente interpretativa, contudo consideramos que tais conclusões são mais baseadas em pré-concepções contemporâneas do que na análise aprofundada das convenções pictóricas daquela sociedade e do próprio artista.
Em nosso trabalho, realizaremos a leitura isotópica das "hydríai" do "Washing Painter" e a sua relação com o contexto histórico de produção, a fim de identificarmos a intencionalidade do nu feminino nesses vasos e o "status" social das mulheres neles representadas.
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Marta Mega de Andrade (UFRJ)
Gênero e política: a polis do ponto de vista da divisão genderificada das “esferas de ação”
A comunicação introduz o debate sobre alguns textos antigos que problematizam direta ou indiretamente a cidadania na polis, focalizando para isso o exercício do poder por homens e mulheres em esferas de atuação diferenciadas (casa e rua, privado e público, religião e governo, etc). A hipótese é a de que esse tema recorrente na definição do espaço institucional do exercício do governo construía-se fundamentalmente sobre o reconhecimento da existência de dois gêneros distintos, entre os cidadãos possíveis (por oposição a estrangeiros e escravos), não pela fisiologia do corpo mas por dois pólos diferentes de exercício da arché (poder de conduzir) na comunidade. Assim, a minha proposta é apresentar à reflexão um caso para cuja abordagem o uso da noção de gênero, embora pertinente como categoria de análise histórica, deve ser matizado por um contexto em que o gênero (no grego, genos ou phulé) pode não corresponder a uma divisão binária do corpo em “sexos”.
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Fábio de Souza Lessa (UFRJ)
Gênero, sexualidade e o discurso da submissão feminina na Atenas Clássica
Ao entrarmos em contato com os textos literários e imagéticos gregos do Período Clássico (séculos V e IV a.C.) observamos um discurso recorrente que relega às mulheres, em especial as esposas legítimas dos cidadãos atenienses, a submissão e a inferioridade aos homens como seus atributos essenciais, sendo as vozes femininas "silenciadas" pelo discurso masculino.
Acreditamos que os pressupostos teóricos da História de Gênero propiciem o resgate da visibilidade feminina e nos ofereçam condições para questionarmos o discurso hegemônico masculino que enfatiza a submissão feminina como naturalizada.
A sexualidade se constituirá em outra categoria, aliada a de gênero, para desconstruirmos a submissão feminina idealizada pelos grupos masculinos atenienses. Nesta comunicação, gênero e sexualidade serão entendidos como construções culturais e estudadas como tais no interior da sociedade ateninese.
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Regina Maria da Cunha Bustamante (UFRJ)
Jogos amorosos, uma representação musiva afro-romana
Na Antiguidade Clássica, jogos amorosos eram representados em espaços públicos e privados. Nesta comunicação, optamos por analisar uma destas representações vinculada num mosaico encontrado num dos cômodos privativos de uma rica residência da cidade Thysdrus (atual El Djem na Tunísia) na província romana da África Procunsular e datado de fins do século II e início do III. Para tanto, torna-se necessário nos despir dos nossos valores e moralidade contemporâneos, buscando compreender este discurso imagético musivo em seu contexto histórico específico. Ao renunciarmos à presunção de julgamentos pré-concebidos, definitivos e irrevogáveis, estamos aptos a observar a diversidade da existência dos homens em sua complexidade. Dialogar com os antigos nos demanda o esforço de nos colocarmos em lugares específicos do passado em que eles se moviam. O estudo da História produz indubitavelmente um sentido de diversidade, que é operado com a intenção de projetar uma reflexão sobre o presente, estimulando e desenvolvendo um olhar crítico sobre perspectivas a-históricas e essencialistas, que naturalizam determinados comportamentos e valores e excluem e desqualificam “outros”.
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Lorena Pantaleão da Silva (UFPR)
Religiosidade feminina: um estudo do Satyricon
Nosso trabalho focaliza a possibilidade de estudar o tema da religiosidade feminina a partir da literatura romana. Para tanto iremos analisar uma obra marcada pelo cômico, o Satyricon de Petrônio (I d.C.). Especificamente no caso da Antiguidade romana, observamos uma grande quantidade de pesquisas sobre a mitologia ou a respeito da hierarquia dos sacerdotes, existindo, contudo, um número relativamente
pequeno de estudos sobre as práticas religiosas femininas. Neste sentido, enfatizamos que, embora possua um caráter diferenciado, exigindo uma análise interdisciplinar, a literatura cômica nos leva a perceber discursos diversos acerca dos papéis femininos na Antiguidade e, principalmente, questionar modelos elaborados em tipos ideais. Desta forma, buscamos apontar como o diálogo entre história e literatura pode ser proveitoso para os estudos sobre a religiosidade romana, possibilitando novas interpretações sobre o tema.
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Maria Aparecida de Oliveira Silva (UNESP), Gregory da Silva Balthazar (PUC - RS)
Sexualidade e poder em Plutarco: o exemplo de Cleópatra
Última governante da Dinastia dos Ptolomeu, Cleópatra desempenhou importante papel na política do antigo Mediterrâneo, um marco do fim da república e início do Império romano. Poucas personagens femininas destacaram-se tanto no imaginário coletivo do Império como Cleópatra. Plutarco representa um testemunho do olhar de seu tempo sobre a rainha egípcia nas biografias de Júlio César e Marco Antônio. Sob essa perspectiva, nesta comunicação, trataremos da visão plutarquiana da política externa de Cleópatra, pois, segundo o autor, empregou vários expedientes para assegurar seu trono e expandir os domínios do Egito.
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Edilson Alves de Souza (UEG), Vanessa Gomes Franca (UFG / UEG)
O engendramento do setenário das virtudes no discurso do gênero na tradição bestiária medieval
No medievismo, a natureza é tida como uma representação emblemática. Nela, as pessoas deviam buscar exemplos de ensinamento e de edificação moral. É nesse contexto que nos deparamos com um dos livros mais lidos e copiados dessa época, o Bestiário. Este descrevia espécimes de animálias-modelo por meio das quais os homens buscavam compreender os mistérios divinos. Os clérigos do medievo eram encarregados de descobrir o significado da existência dos animais, e assim, incuti-los nesses códices, retratando, desse modo, os moldes de vivência cristã exigidos pela igreja. Assim, em tais compêndios, as animálias, por mais viciosas que fossem, serviam como exemplaridade. Uma vez que todas foram criadas por Deus, mesmo aquelas alimárias que apresentam comportamentos que não devem ser seguidos, edificam por tese e antítese. Notamos que nos bestiários há certa misoginia no tratamento de bestas do sexo feminino. No entanto, constatamos também que algumas delas estão fortemente associadas às sete virtudes. Assim, nosso estudo objetiva verificar o engendramento do setenário das virtudes no discurso do gênero na tradição bestiária medieval.
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25/08 - Quarta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva (UFRJ)
Gênero, política e deslocamentos: uma leitura da Vita Dominici Siliensis
A Vita Dominici Siliensis (VDci), livros I e II, foi escrita entre 1088 e 1109, por um monge, identificado pelos pesquisadores como Grimaldo. Ele era um religioso de origem franca, que teria se estabelecido no Reino de Castela devido à crescente influência de Cluny no monacato ibérico no período. Esta foi a primeira vita redigida sobre Domingo Manso, que viveu entre 1000 e 1073, e foi, sucessivamente, sacerdote, eremita e monge. Após conflitos com o rei de Nájera, Garcia, exilou-se em Castela, onde atuou como abade reformador do Mosteiro de Silos. A VDci foi escrita a pedido de Fortunio, sucessor de Domingo à frente da comunidade silense, como uma das iniciativas voltadas ao reconhecimento da santidade do antigo abade, transformado em patrono do monastério. O texto foi composto em latim, em prosa, e tinha como público alvo os próprios monges do cenóbio. Partindo da análise da construção narrativa da trajetória de Domingo na VDci, nossa comunicação visa discutir como os deslocamentos do protagonista se articulam aos embates políticos estabelecidos pelos monges e aos discursos de gênero. Partimos do pressuposto que tais deslocamentos são elementos fundamentais na construção de diversas identidades de gênero para os religiosos.
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Guilherme Antunes Junior (UGF)
A mariologia medieval em perspectiva de gênero: um estudo comparado do Duelo de la Virgen de Gonzalo de Berceo e o sermão de Aquaeducto de Bernardo de Claraval
O presente trabalho visa analisar o poema conhecido como Aqui Escominza el Duelo que Fiz la Virgen Maria el Dia de la Pasion de su Fijo Jesucristo, escrito pelo clérigo castelhano Gonzalo de Berceo no século XIII. Trata-se de uma obra de caráter mariológico, na qual a história bíblica da Paixão de Cristo é narrada pela personagem Maria que, segundo os cristãos, é a mãe de Cristo. Nosso objetivo é discutir a construção da mariologia berceana à luz de seu contexto histórico e do sermão De Aquaeductu, sermão atribuído ao monge cisterciense Bernardo de Claraval, escrito provavelmente no século XII e considerada pelos especialistas como fonte direta do Duelo de La Virgen. Para trabalharmos nossas fontes, faremos uso da categoria gênero como proposição teórica.
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Marta de Carvalho Silveira (UFF), Rosiane Graça Rigas Martins (UFRJ)
O Fuero Real e as penalidades imputadas às figuras femininas
O texto jurídico castelhano-leonês que ora estudamos – Fuero Real - outorgado às cidades do norte de Castela no século XIII, trazem, em seu conteúdo, matérias do direito eclesiástico, do direito do rei, e dos usos costumeiros que interagem com o fim de ordenar as populações que habitam este território peninsular.
No tocante ao universo feminino, inseridos no campo da História Social e com os pressupostos da História das Mulheres, buscaremos identificar e discutir a presença da mulher na lei como promotora de delitos, o que afetava a ordem social e colocava em risco a instituição matrimonial, tão cara à sociedade onde estavam inseridas.
A normatização do corpo é um dos aspectos inseridos no projeto de pesquisa vinculado ao PEM – Programa de Estudos Medievais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, intitulado "A legislação real castelhana no século XIII e os discursos sobre os corpos e sobre a diferença sexual" , onde as mesmas desenvolvem pesquisas.
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Aline Dias da Silveira (UFSC)
A Dama Pé de Cabra e a representação do feminino maravilhoso nos Livros de Linhagens do Conde Dom Pedro (século XIV): laços de parentesco e vassalagem na Península Ibérica medieval
A cavalgar entre montanhas ou entre as brumas de uma misteriosa floresta, o cavaleiro aproxima-se de uma fonte e é surpreendido pela luminosa visão da bela Senhora. Encantados, a Senhora e seu cavaleiro se unem, mas existe uma condição: o pacto entre eles que deve ser seguido. A traição significa o rompimento da ordem. Este pacto feérico de origens diversas e muito antigas manifestou-se literariamente na Europa medieval a partir do século XI. A Dama Pé de Cabra, progenitora da família Haro de Biscaia, é uma dessas narrativas, composta no século XIV pelo conde D. Pedro de Barcelos em sua obra, conhecida como Livro de Linhagens do Conde D. Pedro. O presente trabalho identifica elementos na representação do feminino maravilhoso medieval e do pacto feérico, que indicam a estreita relação entre os laços de vassalagem e de parentesco através do matrimônio na sociedade ibérica medieval. Desta forma, busca compreender a relação entre estruturas simbólicas gerais, a circunstância histórica e os valores que formaram a narrativa feérica presente no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro.
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Marcelo Pereira Lima (UFF)
“(...) la muger es contada por lecho del marido”: gênero, corpo e adultério na legislação afonsina, séc. XIII
O adultério foi um tema recorrente na legislação afonsina de meados do século XIII. Essa transgressão foi concebida como um crime-pecado-erro com complexas implicações para elaboração jurídica de um ideal de matrimônio, de família e de ordem social. Por isso, como tem evidenciado a historiografia sobre o assunto, a monarquia castelhano-leonesa dedicou diversas leis para regular a vida sexual de homens e mulheres sobre esse aspecto. No entanto, algo menos óbvio do que isso é a dificuldade historiográfica de se reconhecer as assimetrias e hierarquias fundamentadas no gênero na questão do adultério. Nesse sentido, a presente comunicação visa discutir como o gênero interferia na formulação das leis afonsinas, sobretudo nas noções de pessoa, corpo, honra e desonra. Assim, levando em conta o discurso sobre as relações adulterinas, concentraremos nossa atenção nas principais compilações legislativas produzidas no governo de Afonso X (1252-1284)
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Cláudia Costa Brochado (IESB)
Estratégias e negociações das mulheres na Barcelona do século XV - processos matrimoniais.
Os processos relacionados à questões matrimoniais da Barcelona do séc. XV mostram mulheres plurais que se movimentam em busca de espaços materiais e simbólicos alternativos. Nesse percurso, elas vão construindo espaços diferenciados de práticas sociais, nos quais os limites das leis são testados, evidenciando os lugares e estratégias de negociação existentes entre a normativa vigente e a dimensão da experiência cotidiana dos sujeitos.
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26/08 - Quinta-feira - Tarde (14h às 18h)
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Márcia Pereira dos Santos (UFG - Catalão), Teresinha Maria Duarte
A escrita hagiográfica medieval e a formação da memória dos santos e santas católicos
A hagiografia medieval se constituiu como meio de elaboração e preservação da memória de santos e santas católicos. Escritas segundo um padrão narrativo que atendia à normatividade do que era ser santo ou santa para a Igreja, a narrativa hagiográfica pode ser tomada como expressão de deveres de memória: a) da Igreja em relação aos santos, pois eram a garantia que o exemplo de vida do santo ou santa não seria esquecido; b) dos fiéis em relação a santos e santas, pois o acesso a histórias de vida do santo ou santa de devoção impunha aos fiéis, modelos de comportamento que deveriam reger suas vidas; e, finalmente, c) dos fiéis em relação à Igreja, pois a hagiografia era, também, uma narrativa que adequava a vida do santo ou santa às normas e regras eclesiásticas, sendo assim, uma forma de educar o povo no catolicismo. A partir dessas premissas nossa investigação centra-se em responder a questão: qual o papel da escrita hagiográfica na formação da memória de santos e santas católicos que atravessou séculos, países e culturas e que referenda não apenas a escrita dessa memória pela Igreja, mas também a sua recepção e apropriação popular pelos fiéis que faziam e fazem até hoje sua própria leitura da vida dos santos e santas, recontando-as segundo suas próprias demandas e cultos.
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José do Nascimento (UFSC)
Catarina de Siena: o êxtase e a fé ao feminino singular
Catarina de Siena, pobre, analfabeta e extática, era vista como uma realidade tangível de domínios patriarcais, embora tenha vivido em um ambiente permeado pela misoginia subjacente ao contexto do século XIV. Os seus escritos e a sua vida serviram, com efeito, como mola propulsora para legitimar a Igreja Católica naquele período e posteriormente. Levando-se em conta seus escritos, vale lembrar, ainda, que as palavras não surgem ao acaso e guardam em si não apenas a origem etimológica, mas também resquícios do tempo no qual surgiram.
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Karine Simoni (UFSC)
De dama da escola de Salerno à figura legendária: Trotula de Ruggiero entre a notoriedade e o esquecimento
A presente comunicação analisa a trajetória de Trotula De Ruggiero, notável figura feminina que no séc. XI lecionou na Escola de Salerno e escreveu importantes tratados de medicina. Trotula tornou-se ímpar por ter aliado a pesquisa e o ensino da medicina à profissão de médica. É o caso da sua principal obra, De mulierum passionibus ante e post partum (As doenças da mulher antes e depois do parto), que resultou da observação de pacientes, prática não comum na época. As teorias de Trotula foram utilizadas nas escolas de medicina mais renomadas até o séc. XVI, mas a partir desse período, à semelhança de outros textos escritos por mulheres, a obra de Trotula foi atribuída a autores de sexo masculino, e a sua existência, questionada.
O presente estudo concentra-se em dois momentos distintos. Inicialmente recorro à obra de Trotula para apresentar a originalidade da sua contribuição para a medicina do período, o que lhe rendeu popularidade na época e nos séculos que se seguiram, e no segundo momento procuro discutir as relações de poder e de gênero que culminaram com o processo de apagamento de Trotula na história da medicina, a partir do séc. XVI. Por fim, busco apresentar possíveis desdobramentos desse estudo.
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Carolina Coelho Fortes (UFF), Márcia Cavalcanti (UGF)
Gênero e morte :a “morte” de Maria em duas hagiografias medievais
Para os medievais, a morte pode ser entendida como uma categoria explicativa do mundo, da mesma maneira que é também uma forma de classificação atribuir aspectos masculinos e femininos às mulheres, homens, coisas e fenômenos. Morte e gênero, portanto, são formas de organizar e explicar a realidade social. Nesta comunicação gostaríamos de testar as relações entre esses dois conceitos, percebendo a morte como passível de definição, uma vez que esta não se constrói apenas por fenômenos biológicos, mas caracteriza-se igualmente por uma carga simbólica.
Isso fica patente no caso de Maria que, de acordo com o cristianismo medieval, não morre fisicamente, mas ascende aos céus. Com base em relatos hagiográficos selecionados da obra de Gonzalo de Berceo, escritos no século XII, e no relato sobre a ascensão de Maria contido em um manuscrito do século XIV da Legenda Áurea, pretendemos delinear como a morte é percebida em termos de gênero.
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Gabriela da Costa Cavalheiro (UFRJ)
Mulheres sedutoras, damas recatadas: um olhar sobre a sexualidade feminina no baixo medievo inglês
Em meio a uma vasta produção acadêmica dedicada ao estudo de figuras femininas no medievo inglês, encontramos diversos trabalhos que adotam as premissas analíticas da História das Mulheres. Todavia, localizar estudos que busquem apreender os saberes sobre a diferença sexual naquele contexto, isto é, que construam seus objetos através de uma perspectiva vinculada aos Estudos de Gênero não é tão comum.
Nossa pesquisa, que se constitui às bases deste aporte teórico, lança um novo olhar sobre as manifestações da sexualidade feminina no baixo medievo inglês, através da análise de romances seculares, isto é, da literatura de corte. Pretendemos demonstrar como as interpretações daquela sexualidade genderizada estão vinculadas às demandas de um universo laico, distanciando-se, assim, das normas reguladoras dos olhares clericais. Desse modo, intentamos desconstruir imagens cristalizadas a respeito da movimentação feminina dentro do corpo social naquele contexto, através das possibilidades interpretativas e analíticas disponibilizadas pelos Estudos de Gênero, em perspectiva histórica, aplicadas ao estudo da sexualidade.
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Rejane Barreto Jardim (UFPel)
Sentimento parental e masculinidade no medievo
A presente proposta de comunicação tem por objetivo prospectar o sentimento paterno na sociedade ibérica medieval a partir da observação de alguns fragmentos encontrados nas Cantigas de Santa Maria, que nos sugerem, o exercício do amor paterno.
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Valéria Fernandes da Silva (FTBB)
Revisitando a santidade: leituras cinematográficas de Clara de Assis no século XX
A Idade Média alimenta a imaginação e possibilita leituras variadas por parte das diversas mídias, como o cinema. Esta mídia tem uma função pedagógica, alimentando o imaginário social e ajudando a criar, desconstruir e resignificar representações sociais. Nesse sentido, são várias as obras cinematográficas que buscam recontar momentos da História da Igreja Católica, pois esta instituição permanece na longa duração, sendo familiar a boa aprte das audiências. Nesse sentido, o gênero biográfico é um dos mais usados para visitar a História da Igreja, devido ao seu valor didático e pedagógico. Assim, um dos santos mais privilegiados pelos cineastas é Francisco de Assis, por seu caráter controvertido e popular, e pela busca de uma vida de pobreza evangélica em oposição à opulência associada à instituição. Em nosso trabalho falaremos não Francisco, mas de como Clara de Assis é vista pelos cineastas. Clara foi a primeira franciscana e está presente em todos os filmes sobre Francisco. Nosso objetivo será discutir como os diversos cineastas tratam a sua imagem, as representações de gênero envolvidas nos filmes, especialmente em confronto com a forma como o próprio Francisco é apresentado nas telas.
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